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O DIREITO A LER
Como sublinhou Italo Calvino, nas suas Lições Americanas, a leitura e a cultura são a mobilidade do intelecto
- JM Madeira – OPINIÃO & CTONICAS
- LUÍSA ANTUNES Professora | Opinião | 15/11/2021 07:00
⦁ Segunda-feira, | atualiza 15 de novembro, 2021 | 14h25
⦁ Nazaré Paulista –SP – Portal de Notícias
⦁ – Por Editor: Bp Sérgio Oliveira14
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Olhei para trás à espera de encontrar os meus alunos. Só vi os de mestrado, de doutoramento. Juro que suspirei de deceção, com um misto de confirmação de que o meu otimismo exagerado é mesmo só isso. E juro que me esforcei na aula: transmiti a importância da Feira do Livro, expliquei que, por exemplo, ouvir o Professor Carlos Reis era um privilégio, que a conversa sobre José Saramago que ia ter com Violante Saramago Matos seria única, que deviam aproveitar momentos como este, que são tesouros que ficam para a vida fora; que, quando têm de lutar contra uma dupla periferia – a geográfica e a cultural –, é importante aproveitar tudo o que se pode para ter mais mundo. Como são alunos de licenciaturas das áreas da cultura e da educação, pensei que o meu entusiasmo os cativasse. Afinal, sou apenas a maluquinha que fala de literatura e cultura como se ela fosse parte da vida e a vida é outra coisa, pensam eles, que sabem naturalmente mais do que a excêntrica que lhes dá aulas. E os do secundário? Saramago já não faz parte do programa?
E, depois, pensei: o que se pode esperar se as mensagens sociais e políticas também os afastam da cultura? Não precisam de teste realizado com 24 horas de antecedência para ir a uma discoteca, mas necessitam dele para ir ao teatro. Se caminharem pelo centro das nossas cidades, quase não encontram livrarias, não têm os olhos habituados aos livros, como os jovens das grandes e pequenas cidades por esse mundo fora. Porque as livrarias não fazem lucro numa população sem direito a ler.
A leitura não permite apenas uma outra ligação com o tempo e com o espaço através do sonho, ela é também uma verdadeira forma de atuar no mundo. Quem procura na literatura o que não há, diz que a vida, como escreveu Mario Vargas Llosa, não é suficiente para satisfazer a nossa sede de absoluto e que, por isso, devia ser uma vida melhor, por isso, ler, assim como escrever, é ter a capacidade para protestar contra as injustiças. Elogiar a leitura num mundo em que o tempo não se compadece com o ritmo lento do ler e em que tudo se confunde num horizonte de espetáculo, efémero, povoado por formas “líquidas”, na conceção de Zygmunt Bauman, de lugares de trânsito sem significado, pode parecer retórico, inútil e aborrecido. Todavia, é essencial.
Como sublinhou Italo Calvino, nas suas Lições Americanas, a leitura e a cultura são a mobilidade do intelecto, porque uma vida vivida com ligeireza, procurando o que é leve, no sentido do que é vago e não exige esforço, tem a contrapartida de ser uma vida pesada, imóvel. No mundo da desagregação das grandes narrativas, do temporâneo e descrente, o leitor mantém um princípio de juventude – otimista, crítico, preciso, inovador, criador. Se se compreende o valor da cultura como motor de conhecimento, porque é que se lê sempre menos e mal? Não se culpem só as famílias, os adultos “hostis aos livros”. Uma das instituições que deve estar envolvida na formação de uma sociedade civil plena é a escola. Mais do que a família, deve ser a escola que leva as pessoas a ler, a ir a museus, a ir a uma galeria, ao teatro. Em vez disso, as crianças, jovens e professores, também eles vítimas de um sistema que lhes tolhe a criatividade, estão Imersos numa educação que vai da página X à página Y para cumprir um programa.
Para o exercício pleno da cidadania ativa e consciente, o esforço e o compromisso devem ser coordenados e pertencem a todas as instituições. Isto porque se a leitura é um direito é também um dever para quem elabora as políticas educativas. Um dever de abrir caminho para que o indivíduo expanda os seus horizontes, faça ligações entre passado, presente e futuro, alargue a sua visão da humanidade, tornando-se mais atento, mais crítico, criativo e rico, capaz de garantir a liberdade. Como defendia Saramago.
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